Quando o colono é negro: educação e práticas sociais de reprodução do racismo em Angola

Autores

  • Alberto Kapitango Nguluve ISCED - Instituto Superior de Ciências da Educação

DOI:

https://doi.org/10.29181/2594-6463-2018-v2-n2-p106-119

Palavras-chave:

Educação, Escola, Racismo, Angola

Resumo

Resumo

O racismo é, ainda hoje, um fenômeno complexo que remete às questões da humilhação ou discriminação da pessoa a partir dos diferentes conceitos (raça, cor da pele e cultura) e status sociais hierarquicamente construídos. A partir dele se constrói e reproduz o discurso que contribui para consolidar formas e processos que dão voz à exclusão ou à inclusão social. A proposta deste artigo é analisar as práticas sociais que contribuem para a produção e reprodução do racismo em Angola; olhar para o racismo como um instrumento a serviço de fins políticos, econômicos e de poder; e destacar os seus efeitos na educação angolana. O texto traz alguns exemplos que permitem entender como a partir da concepção do sistema educacional angolano, em 1975, se incorporaram elementos que apontam para o racismo, tipicamente da educação colonial, e que ao longo dos 40 anos de independência foram “minando” a concepção de uma educação cultural própria.
Palavras-chave: Educação. Escola. Racismo. Angola.

When the colonizer is negro: education and social practices of racism reproduction in Angola

Abstract

Racism is, nowadays, a complex phenomenon which poses questions of humiliation or discrimination of people from different concepts (race, skin of color and culture) and social status hierarchically constructed. From racism, it has been constructed and reproduced a discourse which consolidates forms and processes which give voices to exclusion or social inclusion. This article intends to examine social practices which favors for production of racism in Angola; it looks at racism as an instrument of politics, economy and power. The paper emphasizes the effects of racism in the angolan education. Also, it gives some examples which allow to understand how the conception of the Angolan education system, in 1975, incorporated elements that illustrates practices of racism, typically of the colonial education, and that throughout 40 years of independence constituted a proper concept of cultural education.
Keywords: Education. School. Racism. Angola.

Cuando el colono es negro: educación y prácticas sociales de reproducción del racismo en Angola

Resumen

El racismo es, aún hoy, un fenómeno complejo que remite a las cuestiones de la humillación o discriminación de la persona a partir de los diferentes conceptos (raza, color de la piel y cultura) y status social jerárquicamente construidos. A partir de él se construye y reproduce el discurso que contribuye a consolidar formas y procesos que dan voz a la exclusión o la inclusión social. La propuesta de este artículo es analizar las prácticas sociales que contribuyen a la producción y reproducción del racismo en Angola; mirar al racismo como un instrumento al servicio de fines políticos, económicos y de poder; y destacar sus efectos en la educación angoleña. El texto trae algunos ejemplos que permiten entender cómo a partir de la concepción del sistema educativo angoleño, en 1975, se incorporaron elementos que apuntan al racismo, típicamente de la educación colonial, y que a lo largo de los 40 años de independencia fueron “minando” la concepción de una educación cultural propia.
Palabras clave: Educación. Escuela. Racismo. Angola.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADOTEVI, S. Negritude et negrologues. Paris: Union Generale d'Editions, 1972.

ANGOLA. Lei nº 17, de 8 de novembro de 1996: Cria o novo Bilhete de Identificação Nacional. Diario da República, I Série, n. 47, 1996.

ARENDT, H. Origens do totalitarismo: anti-semitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

BERND, Z. A questão da negritude. São Paulo: Brasiliense, 1984.

BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1982.

BUFFON, G. L. Oeuvres complètes de Buffon: tome troisième, De l’Homme. Paris: Bazouge-Pigoreau Éditeur, 1839.

COUTO, M. Os sete sapatos sujos: intervenção no ISCTEM, Maputo. In: COUTO, M. E se Obama fosse africano?: e outras intervenções. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 25-48.

DEACON, R.; PARKER, B. Educação como sujeição e como recusa. In: SILVA, T. T. (Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 97-110.

FANON, F. Black skin white masks. New York: Grove Press, 1967.

FANON, F. Peau noire, masques blancs. Paris: Editions Seuil, 1952.

FERRONHA, A. L. Consciência da Luso-Tropicalidade: seus princípios humanistas. Sua visão da África pré-portuguesa, sua constituição, seu futuro e responsabilidade. Porto: Tipografia Marca/Angola: António Ferronha, 1969.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.

FREYRE, G. O luso e o trópico: sugestões em torno dos métodos portugueses de integração de povos e de culturas diferentes da europeia num complexo novo de civilização: o luso-tropical. Lisboa: Comissão Executiva das Comemorações do Quinto Centenário da Morte do Infante Dom Henrique, 1961.

FREYRE, G. Integração portuguesa nos trópicos. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1958.

GEISS, I. Geschichte des rassismus. Frankfurt: Suhrkamp, 1988.

GIDDENS, A. Sociologia. 9. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013.

HENRIQUES, J. G. Angola: houve independência mas não descolonização das mentes. Público, 11 nov. 2015. Disponível em: < https://www.publico.pt/mundo/noticia/houve-independencia-mas-nao-descolonizacao-das-mentes-1712736 >. Acesso em: 03 jul. 2018.

HERNANDEZ, L. L. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. 2. ed. São Paulo: Selo Negro Edições, 2008.

HOFBAUER, A. Raça, cultura e identidade e o “racismo à brasileira”. In: BARBOSA, L. M. A.; SILVA, P. B. G.; SILVÉRIO, V. R. (Org.). De preto a afro-descendente: trajetos de pesquisa sobre relações étnico-raciais no Brasil. São Carlos: EdUFSCar, 2003. p. 51-68.

IMBAMBA, J. M. Uma nova cultura para mulheres e homens novos: um projecto filosófico para Angola do 3º milénio à luz da filosofia de Battista Mondin. Luanda: UCAN & Paulinas, 2003.

INE. Instituto Nacional de Estatística. Censo 2014: resultados definitivos do recenseamento geral da população e da habitação de Angola. Governo de Angola: INE, mar. 2016.

JAMBA, S. O racismo em Angola. AngoNotícias, 12 abr. 2004. Disponível em: < http://www.angonoticias.com/Artigos/item/553/o-racismo-em-angola >. Acesso em: 03 jul. 2018.

KAJIBANGA, V. Crise da racionalidade lusotropicalista e do paradigma da ‘crioulidade’: o caso da antropossociologia de Angola. África: Revista do Centro de estudos Africanos, v. 22/23, n. 1, p. 141-156, 1999/2000/2001.

MACPHERSON, W. The Stephen Lawrence inquiry. London: Stationery Office, 1999.

MARGARIDO, A. Negritude e humanismo. Lisboa: Edições da Casa dos Estudantes do Império, 1964.

MARQUES, J. F. O neo-racismo europeu e as responsabilidades da antropologia. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 56, p. 35-60, fev. 2000.

MBEMBE, A. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.

MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

NETO, M. C. Ideologias, contradições e mistificações da colonização de Angola no Século XX. Lusotopie, n. 4, p. 327-359, 1997.

PEPETELA. Mayombe. São Paulo: LeYa, 2013.

RUI, F. Repensar o ideal da negritude: sua relevância na identidade africana. 2007. Dissertação (Mestrado) – The Catholic University of Eastern Africa, Nairobi, 2007.

SANTOS, B. S. Entre o Próspero e Caliban: colonialismo, pós-colonialismo e interidentidade. Novos Estudos, n. 66, p. 23-52, jul. 2003.

SENGHOR, L. S. Negritude: a humanism of the twentieth century. In: GRINKER, R. R.; LUBKEMANN, S. C.; STEINER, C. (Ed.). Perspectives on Africa: a reader in culture, history and representation. Oxford: Blackwell Publishers, 2000. p. 629-636.

SOUZA, N. S. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

Downloads

Publicado

02/08/2018

Como Citar

NGULUVE, A. K. Quando o colono é negro: educação e práticas sociais de reprodução do racismo em Angola. MOTRICIDADES: Revista da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana, São Carlos, v. 2, n. 2, p. 106–119, 2018. DOI: 10.29181/2594-6463-2018-v2-n2-p106-119. Disponível em: https://motricidades.org/journal/index.php/journal/article/view/2594-6463-2018-v2-n2-p106-119. Acesso em: 17 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos de Revisão