Rompendo a cerca: lazer, processos educativos e resistência aos imperativos do agronegócio
DOI:
https://doi.org/10.29181/2594-6463-2022-v6-n1-p49-62Palavras-chave:
Processos Educativos, Lazer, Resistência, MST, Indústria CulturalResumo
Rompendo a cerca: lazer, processos educativos e resistência aos imperativos do agronegócio
Resumo
Com o passar dos anos observamos o alavancar do agronegócio brasileiro de tal modo que hoje esse segmento tornou-se o carro-chefe da economia brasileira. A hegemonia alcançada encontra sustentação em fatores econômicos, políticos e culturais. Nesse sentido, os grupos vinculados ao agronegócio encetam estratégias que englobam o âmbito do lazer e seu alinhamento à indústria cultural. O objetivo deste texto é discutir o lazer e os processos educativos decorrentes dessa prática social numa perspectiva de resistência no interior do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Vimos que é possível vivenciar o lazer e os processos educativos desencadeados em seu âmago a partir de uma perspectiva de construção de processos educativos de coletividade, partilha e resistência, participação, organização, cuidados ambientais e solidariedade entre os/as trabalhadores/as rurais do MST em contraponto aos imperativos do agronegócio.
Palavras-chave: Processos Educativos. Lazer. Resistência. MST. Indústria Cultural.
Breaking the fence: leisure, educational processes and resistance to agribusiness imperatives
Abstract
Over the years, the Brazilian agribusiness has been leveraging in such way that it has become the main sector in the Brazilian economy today. Such hegemony is supported by economic, political and cultural factors. In this regard, groups linked to the agribusiness engage strategies that comprise leisure and its connection to the cultural industry. This study aims at discussing leisure and the educational processes resulting from this social action in a perspective of resistance within the landless workers’ movement MST. We found that it is possible to experience leisure and the educational processes unfolded in its core from a perspective of building educational processes of collectivity, sharing, resistance participation, organization, environmental care and solidarity among the rural workers of MST, counterpointing it to the agribusiness imperatives.
Keywords: Educational Processes. Leisure. Resistance. MST. Cultural Industry.
Rompiendo la cerca: ocio, procesos educativos y resistencia a los imperativos de la agroindustria
Resumen
A lo largo de los años, hemos visto el apalancamiento del agronegocio brasileño de tal manera que hoy ese segmento se ha convertido en el buque insignia de la economía brasileña. La hegemonía lograda se sustenta en factores económicos, políticos y culturales. En este sentido, los colectivos vinculados al agronegocio emprenden estrategias que abarcan el ámbito del ocio y su alineamiento con la industria cultural. El objetivo de este texto es discutir el ocio y los procesos educativos resultantes de esta práctica social en una perspectiva de resistencia dentro del Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST). Vimos que es posible vivenciar el ocio y los procesos educativos desencadenados en su seno desde una perspectiva de construcción de procesos educativos de colectividad, compartir y resistencia, participación, organización, cuidado del medio ambiente y solidaridad entre los trabajadores rurales del MST en contraste con el imperativos de la agroindustria.
Palabras clave: Procesos Educativos. Ocio. Resistencia. MST. Industria Cultural.
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