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Jaqueline da Silva de Assis; Paulo César Antonini de Souza
Motricidades: Rev. SPQMH, v. 7, n. 3, p. 182-195, set.-dez. 2023 | ISSN 2594-6463 |
DOI: http://dx.doi.org/10.29181/2594-6463-2023-v7-n3-p182-195
artistas negras que trabalhavam nesta mídia, seja em filmes, novelas ou propagandas, como
indicam os estudos de Juliana Santana (2010); Fernanda Barbosa dos Santos e Renata
Pitombo Cidreira (2019); Marcia Rangel Candido e João Feres Júnior (2019), assumiam
personagens como empregadas domésticas, babás, escravas, dentre outras.
Personagens médicas, arquitetas e etc., ainda são exceção, pois existe um padrão de
beleza que promove o embranquecimento de personagens de destaque. Nos raros casos em
que a negra e o negro protagonizam papéis fora da esfera subalterna, estes são considerados
desvio de norma, superando o preconceito, problemática também observada por Ana Ângela
Farias Gomes e Victor Ramos (2023). De acordo com a análise de Sirlene Alves e Marcelino
Rodrigues (2018), as influências das matrizes africanas na arte brasileira são evidentes,
permeando o ritmo da música, a energia da dança, as cores e formas das artes visuais,
abrangendo diversas linguagens de expressão de diversas maneiras. No entanto, “[...] tanto as
heranças artísticas e culturais negras, quanto às obras de arte de negros e seus descendentes
não recebem a devida contextualização como produto de um grupo social que possui uma
memória e uma identidade” (ALVES; RODRIGUES, 2018, p. 802).
Destacamos que, nesse aspecto, o modo como os empregos são estruturados na
sociedade tem efeito direto na questão racial, resultando em desigualdade de direitos e
discriminação, muitas vezes imperceptível e não reconhecida pelas próprias vítimas
(NOGUEIRA, 2007; SILVA, 1999). Essa discriminação revela uma atitude culturalmente
condicionada desfavorável em relação a grupos estigmatizados.
As escolas ainda enfrentam essas questões e, apesar de serem um espaço adequado
para discussões sobre a igualdade racial, a valorização do conteúdo obrigatório estabelecido
na Lei 11.645/2008 (BRASIL, 2008), que inclui a temática “História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena” no currículo oficial da rede de ensino, ainda é limitada. Embora tenha
havido progressos desde sua implementação, existem barreiras a serem superadas, como a
maneira pela qual esse conteúdo é abordado.
Tanto nas escolas públicas quanto nas escolas particulares, o cumprimento da lei
depende do interesse de cada indivíduo. Para compreender plenamente as vantagens da Lei
11.645/2008 (BRASIL, 2008), que representa um marco histórico na luta antirracista no
Brasil e na transformação da política educacional e social do país, são necessárias estratégias
de formação que possibilitem a compreensão do racismo, sua existência e a busca de sua
superação, enfatizando a valorização e o respeito pela cultura africana e pela população negra.
Observamos que esse processo se ordena, como compreende Souza (2022), de forma
ontológica
, e suas etapas podem promover práticas escolares reflexivas que auxiliem a
reduzir atitudes discriminatórias ou preconceituosas, como também preconiza bell hooks
(2013). Nesse contexto, o trabalho com a cultura afro-brasileira nas escolas, especialmente
nas aulas de arte, oferece a oportunidade de construir narrativas que valorizem a história de
uma parcela significativa da população que foi historicamente invisibilizada, pois a escola é
“[...] uma instituição em que aprendemos e compartilhamos não só conteúdos e saberes
escolares, mas, também, valores, crenças e hábitos, assim como preconceitos raciais, de
gênero, de classe e de idade” (GOMES, 2003, p. 170) e as professoras e professores, podem e
devem trabalhar a favor da superação desses preconceitos.
Na pesquisa que embasa esta investigação, com o intuito de compreender como as
acadêmicas negras do curso de Artes Visuais Licenciatura da FAALC/UFMS percebem as
relações de raça e preconceito no contexto das artes visuais e em sua formação docente,
Nessa perspectiva, destacamos a assunção de uma abordagem fenomenológica que se materialize por uma
construção também epistemológica e metodológica.
Nome grafado com letras minúsculas, a partir da orientação da própria autora, para destacar o conteúdo de sua
escrita e não a sua pessoa.